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XII Congresso Português de Sociologia: Sociedades Polarizadas? Desafios para a Sociologia

A simplificação de fenómenos sociais complexos tem conduzido a um debate alargado sobre a polarização crescente das sociedades contemporâneas. Marcando as tendências de transformação social a que assistimos, a polarização tomou conta do debate intelectual e de agendas comerciais, políticas e ideológicas. Um renovado e sagaz olhar sociológico torna-se numa condição fundamental para analisar e enfrentar a fragmentação crescente da sociedade em torno de questões cruciais para o futuro coletivo da humanidade.

Visões, elas próprias, contraditórias e fraturantes de um mundo ora unipolar, ora bipolar, ora multipolar, ou até mesmo marcado por polaridades emergentes constituem um desafio inicial para o debate sociológico nos diversos domínios em que a APS se organiza enquanto sociedade científica e profissional.

Se os polos que se afirmam e se consolidam na estratificação social refletem dramaticamente as desigualdades sociais que nos revelam hiatos crescentes entre os mais ricos e os mais pobres, os mais e os menos escolarizados, ou que evidenciam o acantonamento das classes médias, convidando a leituras bipolares, que novas dinâmicas permitem enfrentar uma sociedade de fossos crescentes e aparentemente intransponíveis?

Os desafios que a polarização traz à sociologia estendem-se, atualmente, a domínios cruciais dos processos e da ação sociais, atravessando, entre outros, os mundos do consumo, das religiões, das identidades, da sexualidade, da infância, da cultura e da ciência. Neste contexto, a digitalização da sociedade e da economia, ao mesmo tempo que abre novas possibilidades, cria e acentua dinâmicas de polarização. Até que ponto os novos media sociais, para além do impacto geral nas interações e práticas sociais, são, eles mesmos, um fator que impulsiona formas de polarização?

A modificação das relações de trabalho e de emprego trazida pela economia das plataformas é mais um fator de exclusão do mercado de trabalho ou de desqualificação para ocupações rotineiras crescentemente precarizadas? Que oportunidades traz consigo e quem delas beneficia? De que forma e até que ponto a polarização dos empregos ameaça e obriga a repensar mecanismos de ação social e políticas públicas?

No plano territorial, onde se manifestam fenómenos relacionados com o turismo, as migrações, o desporto, a polarização urbana acentua tendências de concentração em lugares centrais e faz emergir novos desafios quer para as centralidades, quer para as periferias. Neste contexto, qual o lugar e que formas de articulação entre políticas centrais e locais podem contribuir para abordar exclusões e desigualdades de natureza territorial?

Se a pandemia cavou e reforçou clivagens, se pulverizou o universo das emoções, em que outros domínios exacerbou a polarização? Que consequências trouxe para a confiança nas instituições e organizações que, nas áreas da saúde, da educação, da justiça e da administração, estruturam o funcionamento das sociedades em que vivemos? Qual o lastro das políticas securitárias que acabou por legitimar, designadamente em matéria de segurança?

O Congresso Português de Sociologia será um momento de encontro em presença e a distância para colegas de profissão a trabalhar na investigação ou no terreno em que a partilha e discussão de conceitos, teorias, metodologias e práticas n(d)a sociologia poderão semear novas respostas para os desafios que enfrentamos.

Tipo: Congresso
Evento: XII Congresso Português de Sociologia
Data: 04 a 06 de abril de 2023
Local: Convento de São Francisco | Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

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