Apesar da expansão da área nas duas últimas décadas, e do clima público de aceitação e reconhecimento da importância do género como objeto em muitas disciplinas e instituições, a análise sistemática recente da incorporação dos Estudos sobre Mulheres, de Género e Feministas (EMGF) nos currículos do ensino superior (ES) em Portugal conduzida no âmbito do ENGENDER revelou o caráter ainda incipiente, acessório e precário deste campo de estudos na estrutura curricular no país. Um modelo de ensino que não reconhece as múltiplas formas como conceções de género influenciam, por exemplo, o ambiente de sala de aula, as interações entre discentes (e entre estes/as e docentes) e o próprio currículo, contribui ativamente para a perpetuação de tais assimetrias, a partir da reprodução (in)consciente de enviesamentos e estereótipos de género nas práticas pedagógicas. A ausência de uma perspetiva de género perpetua um modelo de ensino gender-blind cujos efeitos sobre a formação das/os estudantes são profundos e marcadamente negativos ao nível académico, profissional e humano.
A Escola de Boas práticas ENGENDER pretende sensibilizar e capacitar docentes do ensino superior para a incorporação da perspetiva de género na sua prática docente através de abordagens práticas e interativas, constituindo-se como uma oportunidade para identificar e refletir criticamente sobre os preconceitos e estereótipos, frequentemente inconscientes, reproduzidos na prática pedagógica, e mantidos inquestionáveis devido à falta de espaços de desenvolvimento profissional em meio académico.